Mesmo que bem planejada, uma mudança na carreira sempre envolve risco. Se o profissional faz a troca e descobre que era feliz e não sabia, deve avaliar com cautela se vale a pena tentar voltar para a colocação anterior.

“O arrependimento é mais comum do que se imagina, porque as pessoas criam expectativas altas, muitas vezes com pouca base na realidade”, diz a psicóloga e professora da PUC-SP, Myrt Cruz.

 

Não vai ficar feio?

Quando a saída é planejada e o profissional cumpriu todas suas tarefas antes de deixar a empresa, é possível buscar uma reaproximação, afirma Raphael Falcão, diretor da recrutadora Hays.

Mas antes é preciso avaliar como o retorno será encarado pelos ex-gestores e ex-colegas. “Se pedir para voltar pouco depois, vai passar uma imagem de imaturidade e falta de planejamento”, afirma.

 

De portas abertas

Para José Augusto Minarelli, presidente da consultoria Lens & Minarelli, a volta dificilmente dá certo, a não ser que aconteça por convite da empresa. “Quando o profissional pede demissão, há uma perda de confiança. Ele retorna com pouco poder de negociação. Mas, se o chefe antigo fizer uma nova proposta, é diferente”, comenta José Augusto.

Foi o que aconteceu com a publicitária Erika Martins, 23. Depois de ficar por um ano como estagiária em uma agência de publicidade, ela resolveu buscar uma nova experiência como assistente em outra empresa do ramo.

Quando chegou à nova casa, viu que nem as gestoras nem os clientes seriam os prometidos na entrevista. Também percebeu que o salário não compensaria, porque o trabalho se estendia para além do expediente. Após duas semanas, presenciou uma cena de assédio moral e decidiu que não ficaria ali. Por sorte, suas antigas chefes souberam do caso e a chamaram de volta, com uma proposta melhor.

“Voltei mais forte. Foi bom sair para olhar de fora. Às vezes, você pensa que está no pior lugar do mundo e, quando experimenta outra posição, vê que estava bem”, diz.

 

Quando não dá para voltar

Já o administrador Maurício Nascimento, 42, não teve a mesma sorte. Em 2015, deixou uma multinacional de brinquedos, onde trabalhou por dez anos na área financeira, para abrir uma franquia de limpeza doméstica.

O negócio não deu certo e acabou fechando um ano e meio depois. Durante esse período, Nascimento viu seus ex-colegas serem transferidos para outros países. Até tentou, mas não conseguiu voltar à companhia. “Talvez tenha saído na hora errada”, disse Maurício Nascimento.

Após quatro meses de busca, conseguiu se recolocar em uma empresa de tecnologia, onde, agora, é gestor da área de tesouraria.

 

Tempo ao tempo

Antes de voltar atrás, é importante dar um tempo para diferenciar se a insatisfação tem a ver com uma dificuldade de adaptação ou com um problema da empresa.

“Os seis primeiros meses podem ser estressantes. É muita coisa nova”, afirma a professora da escola de administração da FGV, Beatriz Braga. “É preciso saber separar o que tem ou não solução”, complementa.

Se o profissional vir que ali de fato não há futuro, deve planejar a saída e não ter medo de queimar seu currículo com uma experiência curta. “Uma boa justificativa na hora da entrevista neutraliza a ideia de que a pessoa não é estável”, diz Minarelli.

Foi o que fez o contador Augusto César Silva, 55. Depois de seis meses como gerente em uma multinacional farmacêutica, viu-se desempenhando uma função limitada. Até cogitou voltar para a empresa anterior, mas preferiu ir em busca de novas oportunidades.

 

Pesquisou a demanda do mercado e fez dois cursos de aprimoramento. Em um mês foi chamado para um processo seletivo e venceu a desconfiança do entrevistador em relação à curta experiência.

“Expliquei os motivos pelos quais entrei e quis sair, e ele viu que estava falando a verdade”, diz Silva, que hoje trabalha como gerente de contabilidade em uma consultoria de tecnologia.

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