Trabalhar em casa não é só ficar de pijama e chinelo o dia todo. Para muitos adeptos do home office, o dia a dia profissional lembra a rotina de um escritório, mas com roupas mais confortáveis.

Para manter a produtividade, é essencial ter disciplina. Seja por meio de horários regrados para começar e terminar as atividades ou por um plano de metas, é preciso ter controle para não se distrair.

 

Os pontos de vista

Horários flexíveis e fuga do trânsito das cidades grandes resultam em mais qualidade de vida, vantagem exaltada por quem aderiu ao home office, trabalhando como autônomo ou em regime de teletrabalho.

“Eu me desgastava demais, levava uma hora e meia para chegar ao trabalho todos os dias”, diz a publicitária Fabiana Guilherme, 30, que há sete meses deixou uma agência para prestar serviço a uma empresa na qual os seis funcionários trabalham remotamente. “É tudo por Skype”, diz.

O isolamento é a principal reclamação de Fabiana sobre o home office. Ela divide uma casa em São Paulo com mais duas pessoas e trabalha em seu quarto. “Chega uma hora que cansa ficar o tempo todo lá. Se você tem uma sala em casa só para trabalhar, é mais tranquilo”, fala.

 

Vantajoso para o patrão

Para empresas que oferecem programas de home office aos funcionários, as vantagens de ter equipes trabalhando de casa superam os problemas.

“A prática permite a otimização das atividades e a redução de custos”, afirma Eduardo Almeida, presidente da empresa de tecnologia Unisys para a América Latina, que tem uma política de teletrabalho desde 2016.

Com a regulamentação do teletrabalho após a reforma trabalhista de 2017, deve constar no contrato quem vai arcar com os custos de infraestrutura e equipamentos necessários para a atividade, como internet e computador.

“A lei não fixa que a empresa pague esse custo, mas que as partes negociem”, diz Paulo Lee, advogado trabalhista sócio do escritório Crivelli Advogados Associados. “Se o trabalhador não conseguir colocar no contrato de trabalho, por escrito, que a empresa vai arcar com esse custo, ele vai ter que pagar”, explica.

 

A questão da produtividade

Segundo o Banco do Brasil, que fez um projeto piloto de teletrabalho com mais de cem funcionários, houve um aumento de produtividade.

De acordo com Jean Carlos Nogueira, diretor de recursos humanos da Gol, que tem cerca de 900 funcionários de call center trabalhando de casa, a prática diminui o absenteísmo, já que não há dificuldades de deslocamento.

Por lei, quem faz home office hoje não está sujeito a controle de jornada. Ou seja, o trabalho deve ser mensurado por produtividade, não por horas de expediente.

“O empregador não tem como verificar que horas o funcionário começou a trabalhar, quando parou para almoçar”, diz Daniela Yuassa, advogada trabalhista do escritório Stocche Forbes.

Em teoria, desde que se entregue tudo dentro do prazo, é possível administrar o tempo como quiser. Na prática, pode não ser tão vantajoso para o empregado.

“Na empresa você sabe que vai entrar às 9h e sair às 18h. O resto você tem para seu lazer. Isso não acontece quando você trabalha em casa, porque o local de descanso também é de trabalho. Dependendo da situação, é mais prejudicial do que benéfico”, diz Paulo Lee. E, como não há jornada, quem trabalhar mais não recebe hora extra.

Para as empresas, fica difícil disseminar sua cultura empresarial, tarefa mais fácil com a proximidade. Também não funciona bem em equipes em que os gestores não confiam nos funcionários.

Para Josué Bressane, sócio-diretor da consultoria Falconi Gente, porém, isso não deveria ser um entrave para implementação do teletrabalho.

“As pessoas acham que têm controle sobre o funcionário pelo fato de ele estar ali, mas não têm. Não sei se ele está falando com nosso cliente ou se está no WhatsApp com alguém de fora”, afirma. “Ou você entende que é uma mudança de hábito ou não vai dar certo”, diz.

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