O mercado de imóveis usados tem dado sinais de reaquecimento em São Paulo. “Observamos um crescimento na quantidade de clientes desde dezembro”, afirma Igor Freire, diretor de vendas da imobiliária Lello.

Em 2017, o total de contratos de compra intermediados pela empresa aumentou 6% em comparação com 2016.

No Brasil, não há uma metodologia para calcular com precisão transações feitas no setor de usados, mas alguns especialistas estimam que o número seja de seis a sete vezes maior que o de comercializações de imóveis novos – no ano passado, foram 23,6 mil na cidade de São Paulo.

 

Elevando as vendas

Segundo o vice-presidente de intermediação e marketing do Secovi-SP (sindicato da habitação), Flávio Prando, a melhora na economia tem motivado quem estava adiando a compra de um imóvel a fechar negócio.

“As pessoas perceberam que os preços estão parados, que os proprietários estão mais flexíveis para negociar e que essa situação não deve permanecer assim”, diz ele.

O empresário Fausto Sarmento, 65, não quis esperar mais. No início deste ano comprou três apartamentos de 170 metros quadrados em um mesmo condomínio no Tatuapé para morar com a mulher, os dois filhos e suas famílias.

“Para comprar, o preço está excelente. Mas acho que daqui a alguns meses a coisa já vai mudar”, diz Sarmento.

Ele chegou a visitar apartamentos novos, mas optou pelos usados por causa da localização e dos preços mais baixos. “Mesmo reformando, sai muito mais em conta”, comenta Fausto.

 

Crédito

Outro estímulo ao reaquecimento do mercado é a volta do teto de 70% para o financiamento de imóveis usados pela Caixa Econômica Federal, anunciada em janeiro.

O banco havia diminuído o limite para financiamento de usados duas vezes em 2017. De 70% para 60% em agosto e de 60% para 50% em setembro – e, com isso, era preciso dar metade do valor do imóvel como entrada.

“Quando a Caixa muda, estimula outros bancos a competir por condições melhores. É bom para o consumidor”, diz Cristiane Crisci, gerente de inteligência de mercado do Grupo ZAP Viva Real.

Além disso, no último ano, a taxa de juros do crédito imobiliário caiu, atingindo um patamar inferior a 10% ao ano. “Ainda não é tão favorável, mas esperamos que fique entre 7% e 8% até o fim de 2018”, diz Prando, do Secovi.

 

A demanda no futuro

Se a oferta de financiamento para os usados persistir, a demanda por esse tipo de imóvel deve aumentar de forma acentuada nos próximos dois ou três anos, segundo Eliane Monetti, coordenadora dos cursos de especialização em Real Estate da USP.

Isso porque, com o país saindo de um período de crise aguda, as construtoras começam a tirar da gaveta projetos de empreendimentos, mas levará algum tempo até que fiquem prontos.

“Esse ‘gap’ deve favorecer os usados, pois haverá uma oferta mais baixa de novos concorrendo com eles”, afirma Monetti.

O que também deve acontecer é a valorização de imóveis com metragem maior no miolo dos bairros, em razão das restrições impostas pelo Plano Diretor a esse perfil em novos empreendimentos.

Foram o tamanho (126 metros quadrados) e a distribuição do apartamento os motivos que levaram a arquiteta Renata Castilho, 29, a se mudar para um condomínio construído há 20 anos na Vila Nova Conceição, na zona sul.

“A sala, a cozinha e a lavanderia são amplas. Já os novos dão muita importância à varanda gourmet e têm espaços menores”, afirma.

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