Da Redação

Já reparou quanto tempo as crianças e jovens têm dedicado às telas de smartphones, tablets, computadores ou televisores? Uma pesquisa do Centro de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação estima que oito em cada dez crianças e adolescentes com idades entre 9 e 17 anos são usuários de Internet no país.

Já um levantamento feito pela Viacom em 2017 aponta que crianças brasileiras entre 2 e 5 anos passam 50% a mais de tempo por semana na internet do que a média global. Sinal dos tempos, o uso constante desses equipamentos tem ampliado o número de pessoas com problemas na visão, com incidência maior exatamente nessas faixas etárias, conforme ressalta o médico José Marcos Resende, especialista do Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem.

De acordo com o médico, a luz desses aparelhos pode ocasionar danos à visão.

“Já foi comprovado por estudos que o efeito da radiação emitida pela luz azul de televisões, celulares, computadores e tablets pode gerar nas células da retina uma fototoxicidade, uma lesão semelhante à queimadura solar na pele”, afirma o especialista, que também aponta outras questões.

Incidência de miopia

Um estudo publicado recentemente na Ophthalmology, a revista da Academia Americana de Oftalmologia, trouxe evidências de que pelo menos parte do aumento mundial da incidência de miopia, dificuldade em enxergar ao longe, tem a ver com o novo meio de entretenimento da garotada.

No Brasil, em 2014, um estudo realizado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia já mostrava que 21% das crianças entre 9 e 13 anos que utilizavam computador, videogame ou afins por seis horas ininterruptas desenvolveram algum grau de miopia.

“Para cada idade existe uma recomendação do tempo ideal para a utilização dos eletrônicos. O oftalmologista pode orientar os pais quanto a esses limites”, alerta Resende.

O médico também recomenda atividades ao ar livre como forma de evitar ou frear o desenvolvimento da miopia, uma vez que esse problema de refração está relacionado não somente a fatores genéticos, mas também com aspectos ambientais/comportamentais.

Outras complicações

O uso excessivo dos aparelhos eletrônicos também pode acarretar outras implicações.

“Em frente às telas desses aparelhos, piscamos menos e exigimos dos olhos mais foco, causando fadiga, ardor, coceira e ressecamento dos olhos. É muito importante piscar de forma correta e constante para ter uma boa lubrificação dos olhos”, conta o especialista.

A sensação de olho seco pode levar a outro problema: a coceira. “É muito importante prestar atenção se a criança ou jovem coça os olhos com frequência e desestimular esse hábito. Esse comportamento aparentemente inofensivo pode levar à deformidade na córnea, com risco de ocasionar ceratocone, uma alteração na córnea caracterizada pelo afinamento e aumento da curvatura do tecido, levando à diminuição da visão”, explica o médico.

Até pouco tempo, essa doença era considerada rara, mas o número de casos vem crescendo ano a ano e é a principal causa de transplante de córnea no Brasil. Atualmente, de acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, a incidência é de 1 caso a cada 2000 pessoas.

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