As imagens chocam. No assoalho de um ônibus, uma senhora deitada, imóvel. O veículo está parado na porta da UPA Central, em Osasco. O corpo inerte deixa claro: ali, mesmo estando na porta da unidade, ela não foi atendida. O socorro não veio.

Dias depois, um outro vídeo, dessa vez do presidente do Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo). Nele, o doutor Eder Gatti relata como está praticamente impossível exercer a medicina nos aparelhos públicos da cidade. Da falta de estrutura, insumos e medicamentos – passando pela má remuneração e atraso dos salários – o cenário de caos é completo.

Mesmo diante da gravidade dos fatos, a prefeitura soltou declarações aplicando responsabilidade à O.S. Instituto Social Saúde Resgate à Vida, que administra os órgãos de atendimentos no centro da cidade.

As reações não podiam ser diferentes. Em assembleia na última segunda-feira, 11, os médicos chegaram a cogitar uma paralisação da categoria em protesto. “Não adianta a prefeitura tentar transferir responsabilidade. Quando o prefeito foi eleito, ele sabia os problemas que estava assumindo. O povo não enxerga mais nenhum responsável a não ser ele”, declarou o doutor Eder.

Curiosamente, depois de começarmos a apuração desta reportagem, algumas peças começaram a se mover. Na terça-feira, a Câmara Municipal tirou da gaveta um projeto de lei que equipara o salário dos médicos aos demais da região metropolitana. Isso porque, Osasco é o município que pior remunera os profissionais. Além disso, o prefeito chamou o sindicato para conversar. Uma reunião foi agendada para ontem à tarde (e até o fechamento desta reportagem não tinha sido encerrada).

As respostas começaram a aparecer. Mas isso ainda está bem longe de significar um efeito prático aos moradores que precisam do atendimento na Saúde de Osasco.

De acordo com o promotor de Justiça de São Paulo, Roberto Livianu, presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, a população precisa seguir se manifestando e denunciando. “O smartphone é uma arma contra os abusos do poder público. A população está entendendo isso de uma maneira cada vez mais contundente”, disse o promotor.  Ele ainda explicou o caminho para levar adiante as denúncias: “o cidadão só precisa levar as provas aos promotores, nos Fóruns das cidades – e divulgarem os fatos, claro”.

 

Outro lado

Entramos em contato com a prefeitura de Osasco. Encaminhamos a seguinte pergunta: “No mês de agosto, quando recebeu o controle das unidades centrais de atendimento, o doutor Ewandro Ruck declarou que sua O.S. ‘tomaria todas as decisões com a plena anuência da Secretaria de Saúde’. Sendo assim, como e quando a prefeitura vai assumir suas culpas e efetivamente remediar o problema diante dos olhos dos cidadãos de Osasco?”. A resposta foi surpreendente. “Diante dos questionamentos, a prefeitura de Osasco esclarece que respeita a atividade jornalística, mas não pode deixar de apontar que há na formulação da pergunta um juízo de valor já concebido. A O.S. é responsável pela gestão plena do Hospital Antônio Giglio e da UPA Centro e suas ações têm a anuência da Secretaria de Saúde. Após encerramento da sindicância, que está apurando o que de fato ocorreu, pessoas ou entidades poderão ser responsabilizadas. Portanto, ao contrário das afirmativas, a prefeitura não é omissa e está trabalhando para solucionar a questão”.

Sobre juízo de valor, o Jornal do Trem & Folha do Ônibus informa: nosso papel é questionar o poder público. Quando um acontecimento se torna rotina e segue se desenrolando por meses afio de maneira no mínimo trágica para a população, o poder público não pode se esquivar de sua responsabilidade. A prefeitura deve se ater à resolução dos fatos – e não acusar quem está em busca de respostas.

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