Rótulos e críticas permeiam o mundo daquelas que decidiram enfrentar a criação dos filhos

Tayonara Géa
Box: Renan Monteiro
Box: Renan Monteiro

Nas últimas semanas, muitas mães foram desafiadas a publicar em uma rede social pelo menos três fotos que demonstrassem como as mulheres se sentem felizes com os seus filhos. Várias aderiram ao chamado e o que se viu foram imagens como as dos momentos da gravidez, do nascimento dos filhos e do dia a dia junto aos pequenos. Até então, nada de novidade, afinal esse tipo de exposição já é muito comum mesmo sem o tal desafio.

Entretanto, um fato “novo” chamou atenção: a mensagem da mãe Juliana Reis, que recusou o desafio e colocou ‘a boca no trombone’ ao relatar que a “maternidade não é um mar de rosas” e “que ama seu filho, mas odeia ser mãe”.

Pronto, estava decretada uma guerra na rede social. Juliana foi alvejada de críticas pelas mulheres que não assumem a dificuldade que a maternidade impõe – porque é real que existem vários obstáculos. A recusa da mensagem de Juliana foi tão intensa, que o perfil dela foi denunciado e bloqueado.

A questão que se coloca neste caso é: por que muitas mães não assumem que a maternidade é, sim, um grande desafio na vida de uma mulher? Talvez porque seja mais fácil ignorar a realidade, a demonstrar que a cada dia uma nova barreira precisa ser vencida, como as críticas das gerações passadas, dos familiares e amigos.

 

Assumindo os sentimentos

As dificuldades para criar um filho existem e não podem ser escondidas ao ponto de incentivar as demais mulheres a engravidarem. O fato é que os problemas são diferentes e as formas de encará-los também. As gestações não são iguais e os filhos também não. Se todo esse cenário fosse fácil de ser vivenciado, haveria um manual para driblar os incômodos de uma gestação e criar os filhos. Mas isso não existe. Então por que é tão difícil assumir que a maternidade não é mesmo um ‘mar de rosas’?

Segundo a psicóloga perinatal/obstétrica e autora do blog Maternidade no Divã, Maria Cecília Mattos, “como a sociedade prega que a maternidade é um conto de fadas, muitas mulheres ficam envergonhadas por sentirem-se tristes após um evento encarado popularmente com tanta alegria, como a chegada de um bebê. Esse sentimento de inadequação as deixa ainda mais sozinhas, pois não conseguem dividir suas angústias por medo do julgamento alheio. Muitas, inclusive, chegam a duvidar do seu amor pelo filho: será que não amo tanto meu bebê como deveria?”.

A psicóloga também comenta que “apesar do lado negativo da maternidade ainda ser um tabu, cada vez mais encontramos mulheres que têm a coragem de expressar seus sentimentos e desconstruir a imagem idealizada que a sociedade tem das mães. No entanto, se por um lado essa exposição une muitas mães, que já não se sentem tão sozinhas com seus sentimentos negativos, por outro pode chocar muita gente que ainda acredita que a maternidade é uma experiência exclusivamente encantadora e prazerosa”.

 

Filtrando as críticas

Seja na própria família, no ambiente corporativo ou no âmbito social, as comparações relacionadas à maneira de criar os filhos ou no desempenho do papel da maternidade existem e incomodam. Por vezes muitas mulheres escutaram das próprias mães que nos dias de hoje é muito mais fácil criar os filhos, tendo em vista as variedades oferecidas pelo mercado, como fraldas descartáveis e comidas prontas, por exemplo.

Por outro lado, surgem as críticas a respeito das escolhas que os pais fazem ao conferir educação aos filhos – “como você está superprotegendo, você tem que criar os filhos para o mundo”.

A saída para enfrentar os julgamentos é sempre equilibrar a razão e a emoção.

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