A moda inclusiva deve seguir trajetória semelhante às roupas “plus size”, que há poucos anos não atraíam a atenção de lojistas e hoje já ganham espaço nas lojas, afirma Fernando Pimentel, presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção).

De acordo com o Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 45,6 milhões de brasileiros têm algum grau de deficiência -24% da população.

Produção

A estilista Silvana Louro comanda a Equal, marca de Niterói, Rio de Janeiro, que produz peças adaptadas e comuns. Após 30 anos de trabalho com moda, ela estava prestes a mudar de profissão, quando, em 2013, começou a trabalhar com paratletas e desenvolveu um uniforme para a delegação fluminense participar das Paraolimpíadas Escolares, evento anual.

Louro percebeu que cadeirantes sofriam com as mangas das camisetas, justas demais, e, ao conversar com eles, identificou também a demanda reprimida por peças mais atraentes. “Eles tinham roupas funcionais, mas sem pegada fashion”, afirma.

A estilista criou, ainda, calças e saias com modelagem curva, para quem fica o tempo todo sentado.

Já Daniela Auler, 41, começou a estudar o setor após visitar um hospital e notar que havia poucas opções de vestuário disponíveis. Para pessoas com deficiência, usar peças como calças jeans é mais trabalhoso, por causa da modelagem justa, do tecido e do tipo de abertura. “Acaba virando um novo nicho para o mercado, porque é preciso buscar materiais tecnológicos”, diz.

Auler é idealizadora do Concurso Internacional de Moda Inclusiva, realizado anualmente pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo. Em dezembro, o evento chega a sua 9ª edição.

Tecnologia

De acordo com Paula Acioli, coordenadora do curso de Gestão Estratégica em Negócios de Moda da FGV-RJ (Fundação Getulio Vargas), inovações como a impressão 3D podem ser aliadas no incentivo à produção em maior escala de roupas desse tipo, que precisam de pesquisa e design mais elaborados.

“Em breve poderemos ter a moda inclusiva como parte integrante de coleções comerciais criadas para grandes redes de lojas”, afirma.

Para se manter a par das novidades, acrescenta a coordenadora, o empresário precisa ter conexões com pesquisadores, médicos, especialistas, hospitais e instituições que realizam pesquisas na área, além de acompanhar trabalhos acadêmicos, revistas e blogs da área médica, de moda e tecnologia.

Em funcionamento desde 2013, a marca Lado B é especializada em calças e bermudas adaptadas.

“Desenvolvemos tudo de acordo com o que os nossos clientes precisam, depois analisamos a parte tecnológica, quais tecidos usar, os aviamentos, se o fecho será com velcro, zíper ou botão”, afirma a fisioterapeuta Dariene Rodrigues, fundadora da empresa.

Para Rodrigues, a principal dificuldade para expandir as vendas é chegar ao seu público-alvo, que ainda não está acostumado a ter peças feitas sob medida, e em casos severos, depende de cuidadores para adquirir suas roupas. “Estou estudando o meu público para saber como facilitar essa compra”, afirma.

A empresária Daniela Barreiro, vai lançar em dois meses sua marca de roupas para crianças. Ela percebeu a demanda em um grupo de mães empreendedoras, no qual algumas tinham filhos com deficiência. “Me disseram que quem tem condições compra as roupas fora do país. Quem não tem adapta na costureira.”

*Folhapress

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