Consumidores paulistanos que querem ficar na moda gastando pouco têm nos brechós um destino fácil e certeiro. E eles estão por toda parte. A publicitária Stella Vasconcelos, 27 anos, fuça pilhas de roupas e sapatos, rastreia araras e monta looks que poderiam estar em vitrines de lojas. Entre seus achados estão peças de grifes como Gucci, Missoni e Dolce & Gabbana. Para ela, que tem até um canal no YouTube, chamado Diga Xs, a diversidade característica dos brechós dá ao consumidor a oportunidade de encontrar seu modo de se vestir.

“É muito gostoso chegar a um bazar e poder dizer ‘eu identifiquei, no meio de tantas peças diferentes, o meu estilo. No meio disso tudo, essa peça é a minha cara'”, diz.

 

O que há de interessante?

O principal atrativo da clientela de brechós, contudo, ainda é o preço. Isso é consenso. Mas há outras explicações para o interesse crescente pelas roupas usadas.

No artigo “A Moda de Brechó na Ascensão do Consumo Consciente”, as pesquisadoras Raquel Denise Salvalaio e Mary Sandra Guerra Ashton, da Universidade Feevale, abordam o novo significado que os brechós adquiriram a partir dos anos 1990.

“A mudança cultural com relação ao consumo pode ser vista como um dos estopins do crescimento dos brechós e lojas de empréstimo de roupas, uma vez que estas promovem uma significativa diminuição no lixo gerado pela indústria da moda”, diz texto.

O tema é um dos preferidos da designer de moda Bruna Gullaci, 26 anos. Ela conta que passou a refletir sobre os impactos da moda na sociedade e no ambiente após assistir ao documentário “The True Cost” (o custo real, em português), que aborda a exploração dos trabalhadores em confecções de todo o mundo.

 

Consumo consciente

Bruna também tem um canal no YouTube, em que costuma abordar a compra em brechó como uma alternativa acessível de consumo consciente.

“Uma vez eu ouvi uma frase que ficou na minha cabeça: ‘a roupa mais sustentável é aquela que já existe, porque você já gastou matéria prima, energia, máquina, mão de obra'”, diz. “Quanto mais você fizer aquela peça durar, mais ela será sustentável, porque não vai gerar mais resíduos para o ambiente”, comenta Bruna.

O trabalho de Bruna não parou nos vídeos: hoje ela faz parte do mercado e é dona de uma loja virtual de roupas masculinas usadas, a Hombrechó (hombrecho.com/loja). Muitos clientes, diz ela, se surpreendem ao ter o primeiro contato com um brechó e custam a acreditar que aquelas roupas já tiveram um dono. “As pessoas estão começando a entender que, apesar de a roupa ser usada, ainda há muita coisa que pode ser feita com ela”, explica.

 

“É uma caça ao tesouro”

Dona de um canal no YouTube, a publicitária Stella Vasconcelos é especialista em garimpar peças em brechós e bazares. “É uma caça ao tesouro”, brinca.

Acostumada a receber elogios por seu visual, ela passou a publicar fotos das produções em um blog para provar aos amigos que era possível, sim, comprar peças bacanas com apenas alguns trocados. Em 2016, com um empurrão do namorado, o também publicitário Maurício Pinheiro, criou o canal Diga Xs. Mas o amor pelos brechós, conta Stella, nasceu bem antes.

“Sempre que eu precisava ou queria uma roupa nova, minha mãe falava para procurarmos primeiro no brechó”. As pessoas me perguntavam ‘ah, mas você tem coragem de usar roupa de morto?’. Para mim, não é roupa de morto, é só uma roupa que já foi usada”, relata Stella.

 

Liquidação o ano inteiro

 

O gosto de Bruna Gullaci por brechós surgiu ainda na adolescência, como uma forma de economizar. “Desde pequena eu gosto de moda. Eu lia revistas e as modelos da época falavam ‘ai, eu comprei essa bolsa num brechó em Paris’. Eu pensava: nossa, brechó deve ser muito legal”, fala.

Foi assim que ela conseguiu rechear o próprio guarda-roupas com peças que são referências mundiais. Entre as preferidas estão dois modelos lançados em 2012: uma sandália Gucci, pela qual pagou R$ 330 (preço original estimado em US$ 675, aproximadamente R$ 1.350 na época do lançamento), e uma camisa da estilista francesa Isabel Marant, que custou R$ 189 (preço original estimado em 620 euros, cerca de R$ 1.740 na data em que foi lançada).

“O brechó é uma liquidação o ano inteiro, ninguém precisa ficar apavorado como em épocas de promoção”, diz Bruna.

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