Escolas e professores têm papel fundamental no incentivo à escrita e à leitura, afirmou a escritora mineira Conceição Evaristo, primeira homenageada na Olimpíada de Língua Portuguesa.
“A escola e os professores têm responsabilidade grande, principalmente quando se pensa em escola pública, em que a maioria dos estudantes vem de classes populares, em que grande parte dos alunos vai ter contato com o objeto livro ou ter possibilidade de leitura e escrita na escola. A escola tem que ser um lugar que propicia essa atividade, e não um lugar que iniba essa atividade”, disse Conceição.
A escrita
Para Conceição, valorizar as experiências de vida dos estudantes é o primeiro passo para incentivar a escrita. “A escrita é uma experiência sobre tudo que você aprendeu, tudo que escutou, tudo que leu, tudo que observou, tudo que vive. Ela não parte do nada”, afirmou a escritora.
“Se a escola valorizar esses lugares como lugares importantes na vida e experiência do aluno, ela vai despertar nele esse desejo de escrita”, acrescentou.
Segundo especialistas, a língua portuguesa é uma dos grandes gargalos da aprendizagem brasileira. De acordo com os últimos dados do Ministério da Educação, cerca de 70% dos estudantes que concluíram o ensino médio no país não aprenderam nem mesmo o considerado básico em português.
Na prática, isso significa que muitos brasileiros deixam a escola provavelmente sem conseguir reconhecer o tema de uma crônica ou identificar a informação principal em uma reportagem.
Ler para escrever
A escritora considera a leitura essencial para reverter esse quadro. “Um dos elementos que podem bloquear a escrita é a falta de leitura”, ressaltou Conceição.
“O excesso de leitura – estou falando da possibilidade de leitura em grande quantidade – provoca o desejo de escrita”, relata.
Para ler, é preciso ter acesso aos livros. O Censo Escolar do ano passado mostrou que pouco mais da metade (51,2%) das escolas do país têm bibliotecas ou salas de leitura. Entre as escolas públicas, o percentual é 45,7% e, entre as particulares, 70,3%. Pela Lei 12.244/2010, todas as escolas do país devem ter biblioteca até 2020. A lei determina que as bibliotecas tenham, no mínimo, um livro para cada aluno matriculado.
O resultado desse cenário é averiguado na última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, lançada em 2016, segundo a qual os brasileiros leem, em média, 4,96 livros por ano – apenas 2,43 por inteiro. Os demais são lidos em partes. Além disso, a pesquisa mostra que 44% não leram nenhum livro nos três meses anteriores à aplicação do questionário.
Entre aqueles que leem mais, as mães ou responsáveis do sexo feminino são apontadas como incentivadoras desse hábito por 15% dos entrevistados. Os professores aparecem em segundo lugar, citados por 10% dos que participaram da pesquisa.