Não fica nada além da tragédia humana. Dias depois da lama ter começado a escorrer, ceifando vidas e alterando a ordem natural de tudo, muitas pessoas questionam o aspecto legal e punitivo de todo o crime.

A mineradora precisa pagar de forma contundente, afinal reincidiu no erro. Disso, ninguém tem dúvidas. Mas o fato é que não fica nada além da tragédia humana. Não tem como reparar. Nem o pagamento mais alto, ou a punição mais severa.

Então, aqui no Brasil, tudo ganha contornos ainda mais terríveis. Porque além da impunidade que reina entre os poderosos – a população se contenta em ser manobrada por eles e ter suas mentes desviadas com discussões das mais ridículas possíveis.

Durante a semana foram vários assuntos esdrúxulos (para dizer o mínimo). Gente criticando a ajuda de Israel. Gente criticando a atuação dos militares. Gente criticando o abate dos animais que não tinham como ser resgatados. Não faltaram críticas. Não faltou pitaco. Enquanto os familiares de mais de 200 vítimas não sabem nem se vão poder se despedir de seus entes queridos.

O brasileiro gosta de achar que é solidário porque doa água e comida não perecível. Mas não fica atento com os comentários infelizes. Não fica atento com o tipo de “briga” que compra.

Há anos a sociedade entrou nessas de “esquerda contra direita”. Ninguém se dá conta que enquanto ficam discutindo esse tipo de bobagem, esses poderosos – tal qual os políticos que fazem as leis e que não são nem de direita nem de esquerda, mas do próprio umbigo – legislam para que, por exemplo, empresas como a Vale sejam multadas em R$ 3 mil em casos de acidentes como esse.

Ninguém ousa se erguer e ir para as ruas fazer manifestações gigantescas contra essas leis absurdas. Pela memória dessas vítimas.

Falta aos cidadãos a capacidade de indignação pelo que realmente toca a sociedade. As ideologias de cada um são as ideologias de cada um.

Se os brasileiros fossem capaz de se unir para lutar por Justiça uma única vez, boa parte do comportamento abusivo dos poderosos teria de ser modificado.

Não adianta nada falar sobre o viés ideológico do trabalho dos militares. Ou sobre como este ou aquele governo se comportou neste ou naquele acidente. Mencione isto para quem perdeu um filho. Veja se isso vai ter alguma importância.

O que importa no fim é a capacidade de cada um de nós de lutar para transformar esta realidade. Para que isto não aconteça mais. Não ficar discutindo bobagem sobre a lama. Chega a ser desrespeito com os mortos.

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