Quem não acompanhou na televisão ou na internet os movimentos desta semana no mundo da Política e da Justiça, mesmo assim, provavelmente deve ter ouvido falar dos acontecimentos.

Parafraseando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nunca antes neste país, um julgamento de habeas corpus pela Suprema Corte do país teve tanto barulho em volta. Tudo porque, claro, tratava-se de habeas corpus que poderia livrar o ex-presidente da cadeia – mesmo que ele tenha sido condenado em segunda instância.

Infelizmente, o Brasil vive um evento surreal atrás de outro. Enquanto o ex-presidente se considera Deus, e por várias vezes se compara com Jesus Cristo, alguns ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) acreditam serem humanos superiores. Eles não devem satisfações a ninguém. Nem ao povo.

Esquecem-se os juízes, de que são servidores públicos. Públicos. O pensamento que vem em decorrência a este fato é bem simples: se você paga o salário dos servidores públicos, logo você é o patrão de todos eles.

Desde sempre, em todas as repartições públicas do Brasil, é possível se ler: desacatar um funcionário público é crime.

Todos sabemos que a palavra “desacato” pode ser interpretada por diferentes modos. E assim, desde muitos séculos atrás, criou-se a ilusão que os funcionários públicos – incluindo aí juízes, vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidentes – estão acima do bem e do mal. E devem ser respeitados como deuses. Igual o ex-presidente Lula.

O disparate é tão enorme que não faltam pessoas que reverenciam estes homens e mulheres como verdadeiros soberanos. E eles seguem com seus egos, cada vez mais distantes da realidade: a de que são funcionários pagos pelo povo.

Há de se lembrar: não deve existir violência física ou verbal contra ninguém. Mas o protesto, a cobrança e a manifestação são direitos inalienáveis do povo. Se um ministro do STF recebe milhares de e-mails cobrando suas atitudes, deveria se atentar à mensagem recebida e descer do seu pedestal de ilusão.

Se os cidadãos vão para as ruas, e se manifestam, nenhum servidor público deve desmerecer tal ato. Pelo contrário. A voz da rua é a voz da maioria.

Quando o Poder Judiciário dá as costas para o povo, considerando-se superior a essa voz, corre o sério risco de ser ainda mais desacreditado.

O que vem em consequência disso? A barbárie entre os cidadãos. A vontade de se defender por conta própria diante dos ataques de diferentes fontes – sejam pelas violências, pelos desmandos, pela carência de bons serviços – passa a se tornar cada vez mais legítima aos olhos do cidadão.

E esse é um caminho muito mais tortuoso do que parar, abaixar o nariz e entender: teu papel é representar o povo – não o interesse daqueles que eventualmente podem te agradar com malas cheias de dinheiro.

 

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