As referências e os limites são impressionantes. Elas variam para todos os seres humanos em escalas das mais absurdas e os exemplos são infindáveis.

Nesta semana, tivemos alguns extremamente inquietantes.

Quando perdeu a eleição para a Presidência do Senado, Renan Calheiros foi chamado de arrogante por uma jornalista. Numa atitude impensável até mesmo para o cangaceiro mais machista, o alagoano disparou ofensas impublicáveis a ela – o que ruborizou até seus aliados mais ferrenhos.

As referências: quando houve o entrevero entre o então deputado Jair Bolsonaro e sua colega Maria do Rosário nos corredores da Câmara, a grita foi tamanha. Todo mundo comentou. As jornalistas falaram sobre o assunto de forma incansável. Pois bem. Renan fez o que fez e foram poucas as menções. E olha, ele fez muito pior que Bolsonaro. Mas o limite ultrapassado por Renan foi muito além. Apesar disso, ninguém sabe, ninguém viu.

Outra referência: o engenheiro da TÜV SÜD, empresa responsável por auditar as barragens da Vale, declarou ao delegado da Polícia Federal, que sabia do comprometimento da barragem de Brumadinho 2 dias antes do acidente.

Quando o delegado perguntou pra ele se o filho dele trabalhasse lá, o que ele faria, ele respondeu: mandaria que ele saísse de lá o mais rápido possível. Referência: o filho dele seria salvo, as 300 e tantas pessoas que morreram, essas são problemas de suas famílias.

O fato dele saber – 2 dias antes – que um acidente desses poderia acontecer, assim como todos os executivos da Vale, não garante que todos eles sejam punidos desde já. As referências.

O Brasil é um país de referências contraditórias. Limites estranhos.

O que faz um senador achar que pode tratar uma mulher (ou qualquer outro ser humano) como lixo inferior a ele?

O que faz um sistema prisional soltar um engenheiro que reconhece saber que ia acontecer um acidente da magnitude do que aconteceu em Brumadinho – só porque esse engenheiro tem bons advogados?

Por que as pessoas se revoltaram tanto com a postura de Jair Bolsonaro no passado e agora não se revoltam com o absurdo que Renan Calheiros falou?! Afinal, ele teria licença poética devido à sua “habilidade política”, tão exaltada no fim de semana passado?

O Brasil está mudando. Mas quando assistimos semanas como esta que passou, fica o gosto nítido de que ainda temos um caminho complexo para percorrer. Que não nos falte força e ânimo para ele.

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