Quanto pode acontecer em pouquíssimo espaço de tempo. Como dizia o escritor Charles Bukwoski, “as coisas acontecem em segundos – tudo muda”.
Existem as mudanças particulares, aquelas que acontecem dentro de cada um. As mudanças em família – algumas boas, outras ruins.
E têm as mudanças que afetam bastante gente. Repentinas, impactantes. O atentado contra o candidato à Presidência da República, Jair Messias Bolsonaro, é uma dessas mudanças que ainda não tem como ser dimensionada completamente.
Porque é uma mudança que ainda está em curso. Mesmo que a facada tenha sido repentina, suas consequências são lentas. E reverberam, dia após dia.
O principal sintoma da facada – além do dano ao candidato – é o grau de doença da sociedade brasileira.
A doença que passa pelo assassino (que se considerou no direito de esfaquear alguém simplesmente por não concordar com suas ideias) até aqueles que apoiaram o bandido – seja num primeiro momento de resposta espontânea, seja em mensagens que repercutem até uma semana depois.
O brasileiro está vivendo um processo doentio de intolerância.
Apenas as minhas ideias são as certas. Apenas o que eu sinto pode ser levado em conta. Apenas as minhas escolhas são válidas. Somente os meus sentimentos importam.
A intolerância e o egoísmo andam de braços dados. Eles se acompanham e determinam o comportamento – tanto individual, como coletivo.
Somos intolerantes quando não deixamos o outro ser o que é. Quando não aceitamos a forma do outro pensar. Quando desfazemos laços de amizade ou família simplesmente por discordâncias ideológicas.
Somos egoístas quando nosso ego fala mais alto que a nossa essência de bondade. Quando o ego determina que “por orgulho, é a minha opinião e o meu jeito que devem prevalecer”.
Jair Bolsonaro tem seus seguidores mas também tem muita gente que discorda de suas ideias. Daquilo que ele aponta como um caminho para a sociedade. Ok. Basta não votar nele.
É necessário mesmo brigar com o irmão, ou discutir com o amigo – ou ficar postando coisas e mais coisas nas redes sociais – tentando convencer o outro da sua escolha?
O grande centro do problema aí está. Não é o candidato, nem suas propostas extremistas – que nem são tão extremistas assim.
O grande centro do problema está no fato de que os próprios brasileiros estão doentes em sua prepotência. Cada pessoa que tenta impor ao outro a sua opinião, está doente em prepotência.
É o caso simples de rever posturas. Corrigir aos poucos – porque ainda dá tempo.
E não é só a questão política. Geralmente, quem gosta de “dialogar” sobre assuntos polêmicos, está procurando impor ao outro a sua maneira de pensar. Está errado.
Seja na forma de cuidar dos filhos, na maneira de cozinhar, no amor ou desamor que dedicamos aos outros.
Infelizmente, a facada expõe uma ferida muito mais funda: aquela que mora na maioria da população – a arrogância.