Os usuários do transporte público na capital e região metropolitana já não recebem com surpresa o aumento das tarifas de ônibus, metrô e trem no início de cada ano.  No entanto, esse comportamento não deixa de mostrar o lado da indignação quando se compara o valor cobrado e a qualidade do serviço.

Em São Paulo, as tarifas subiram de R$ 3,80 para R$ 4,30 e já levaram manifestantes – que pedem a redução do valor – às ruas da capital. O fato é que esses reajustes levantam vários questionamentos como o lucro dos donos das empresas de transporte público, a oneração aos empregadores e uma saída para que o munícipe deixe de ser a vítima dos descasos dos poderes públicos.

 

Reajuste concedido

Na capital paulista, o aumento da tarifa de ônibus acompanha o reajuste da passagem de trem e metrô. Segundo a Secretaria de Mobilidade e Transportes, para conceder o valor de R$ 4,30 o estudo foi baseado na inflação acumulada dos últimos três anos.

“A prefeitura esclarece que em 2017 o país estava em um cenário de crise econômica. Dessa forma, a administração que assumiu a prefeitura manteve a tarifa básica em R$ 3,80. Além disso, com sinais de melhoria no quadro macroeconômico e perspectivas mais otimistas, o aumento tornou-se factível”, informou a pasta.

 

Não condiz com a realidade

O reajuste das tarifas de ônibus, trem e metrô é seguido por manifestações nas grandes cidades, como aquelas que ocorreram na capital paulista nos últimos dias.

Para Adamo, a população precisa ter mais clareza sobre os ‘porquês’ de se conceder os reajustes. “Falta transparência das empresas. Não adianta jogar uma planilha com os gastos, é preciso ter uma linguagem clara à população, como exemplo o quanto se gasta por linha – em cidades pequenas, as tarifas cobradas são as mesmas das cidades grandes, e as linhas percorrem uma quilometragem muito menor . Jogar limpo com os usuários”, diz.

O especialista comenta que os empresários precisam lucrar, desde que seja um lucro justo. “Os empresários lucram muito e, por isso, alguns contratos precisam ser revistos. Hoje não se tem claro a diferença do lucro e dos retornos de investimento dos empresários. Está tudo no mesmo balaio”, explica Bazani.

Para que o empresário obtenha seu lucro – de forma justa – e o serviço oferecido seja de qualidade, Adamoz Bazani comenta que é preciso criar fontes de financiamento.

“Quando se perde passageiro, se perde receita e a tarifa tende a ser maior. Por isso, é preciso financiar o sistema, como a construção de corredores de ônibus”, aponta.

 

Empregado e empregador

O reajuste das tarifas onera tanto o empregador quanto o funcionário diante da possibilidade de contratação daqueles que utilizam menos transporte público em seu deslocamento – principalmente nas cidades aonde o valor transporte tem um reajuste diferenciado da tarifa comum.

“No Grande ABC, por exemplo, as tarifas de vale transporte são mais caras do que a tarifa comum. Vários juízes entendem que se trata de uma prática irregular e ilegal. Se pagar o vale transporte é caro, o empregador vai optar pelo funcionário que não utiliza o transporte público ou aquele que utiliza menos. As tarifas altas desestimulam o empregador a manter o funcionário e estimula a ilegalidade”, comenta Adamo.

 

Alimentador dos sistemas

Segundo a pesquisa Origem Destino do Metrô, publicada no final de 2018, o deslocamento por metrô, trens e aplicativos na Grande São Paulo ganhou força nos últimos dez anos (entre 2007 e 2017). No entanto, o ônibus ainda segue sendo o principal modo de transporte nas cidades.

De acordo com a Secretaria de Mobilidade e Transporte de São Paulo, a média diária de viagens no sistema municipal de ônibus em 2018 foi de 9.723.958. Para o especialista em transporte, Adamo Bazani, o ônibus funciona como um alimentador do sistema metroferroviário.

“O ônibus ainda é muito utilizado para chegar até as estações de trem e metrô e, por isso, nunca vai perder a sua importância. São poucas as pessoas que deixaram de usar o ônibus para usar o metrô e o trem – o trilho. O mesmo usuário que está no trem é que está no ônibus. O trilho precisa avançar junto com pneu para que as pessoas não percam tempo e qualidade nos deslocamentos”, diz Adamo.

A Secretaria informou que “no momento está em curso a licitação do sistema municipal de transporte coletivo público, que vai organizar o sistema e trazer maior frequência e regularidade aos ônibus da cidade”.

 

O ônibus como atrativo

Segundo o especialista, para que o ônibus continue sendo um transporte público atrativo é preciso que haja transparência das empresas sobre os motivos que levam ao reajuste das tarifas e investir em infraestrutura.

“É preciso saber os motivos que levam aos valores das tarifas e se os porquês não convencem, é preciso mudar. As prefeituras também precisam investir em corredores de ônibus porque são atrativos – menor tempo parado no trânsito – e tem o efeito de baratear a tarifa por reduz o custo, uma vez que se gasta menos combustível e aumenta o número de viagens”, comenta Bazani.

A previsão da Secretaria é implantar 72 quilômetros de corredores até 2020. “Os corredores trarão maior eficiência e confiabilidade ao transporte público municipal”, informou a pasta.

“Fazer corredor de ônibus é tão simples, do ponto de vista urbanístico, que se vê o descaso do poder público em relação a priorização do transporte público no espaço urbano. Não se vê cidades da Grande São Paulo, tirando São Bernardo do Campo no Grande ABC, com planos de corredores”, fala o especialista em transporte.

 

Aplicativos estão na preferência

Uma tarifa cujo aumento não é transparente ao cidadão e a qualidade não condiz com o serviço oferecido faz com que os munícipes procurem outra alternativa de transporte, como os aplicativos – que também ganharam força nos últimos dez anos, de acordo com a pesquisa.

Para Adamo Bazani, a escolha por esse meio de locomoção é uma realidade para as pessoas que precisam fazer um deslocamento diário com quilometragem mais curta, tendo em vista as tarifas dos ônibus e o valor cobrado pelos aplicativos. Porém, ele faz um alerta sobre essa utilização.

“Esse aumento no uso de aplicativos levanta a seguinte questão: é preciso financiar o transporte público e o aplicativo pode ser uma das formas desse financiamento. Caso contrário, o transporte público, que é socialmente importante, pode entrar em colapso”, explica.

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