Os usuários do transporte público já não recebem com surpresa o aumento das tarifas de ônibus, metrô e trem no início de cada ano.  No entanto, esse comportamento não deixa de mostrar o lado da indignação quando se compara o valor cobrado e a qualidade do serviço.

Na zona oeste da Grande São Paulo, a maioria das cidades teve aumento na passagem de ônibus. Ocorre que em algumas delas, a quilometragem percorrida pelas linhas é muito inferior aos demais municípios, o que não justifica a concessão do aumento.

O fato é que esses reajustes levantam vários questionamentos como o lucro dos donos das empresas de transporte público, a oneração aos empregadores e uma saída para que o munícipe deixe de ser a vítima dos descasos dos poderes públicos.

 

Não condiz com a realidade

O Brasil ainda não se recuperou da crise econômica e o reajuste da tarifa não é vista como uma prática legal pelos usuários e empregadores.

Para Adamo, a população precisa ter mais clareza sobre os ‘porquês’ de se conceder os reajustes. “Falta transparência das empresas. Não adianta jogar uma planilha com os gastos, é preciso ter uma linguagem clara à população, como exemplo o quanto se gasta por linha – em cidades pequenas, as tarifas cobradas são as mesmas das cidades grandes, e as linhas percorrem uma quilometragem muito menor. Jogar limpo com os usuários”, diz.

O especialista comenta que os empresários precisam lucrar, desde que seja um lucro justo. “Os empresários lucram muito e, por isso, alguns contratos precisam ser revistos. Hoje não se tem claro a diferença do lucro e dos retornos de investimento dos empresários”, explica Bazani.

 

Alimentador dos sistemas

Segundo a pesquisa Origem Destino do Metrô, publicada no final de 2018, o deslocamento por metrô, trens e aplicativos na Grande São Paulo ganhou força nos últimos dez anos (entre 2007 e 2017). No entanto, o ônibus ainda segue sendo o principal modo de transporte nas cidades.

Para o especialista em transporte, Adamo Bazani, o ônibus funciona como um alimentador do sistema metroferroviário.

“O ônibus ainda é muito utilizado para chegar até as estações de trem e metrô e, por isso, nunca vai perder a sua importância. São poucas as pessoas que deixaram de usar o ônibus para usar o metrô e o trem – o trilho. O mesmo usuário que está no trem é que está no ônibus. O trilho precisa avançar junto com pneu para que as pessoas não percam tempo e qualidade nos deslocamentos”, diz Adamo.

 

Para ser atrativo

Segundo o especialista, para que o ônibus continue sendo um transporte público atrativo é preciso que haja transparência das empresas sobre os motivos que levam ao reajuste das tarifas e investir em infraestrutura.

“É preciso saber os motivos que levam aos valores das tarifas e se os porquês não convencem, é preciso mudar. As prefeituras também precisam investir em corredores de ônibus porque são atrativos – menor tempo parado no trânsito – e tem o efeito de baratear a tarifa por reduz o custo, uma vez que se gasta menos combustível e aumenta o número de viagens”, comenta Bazani.

 

Aplicativos na preferência

Uma tarifa cujo aumento não é transparente ao cidadão e a qualidade não condiz com o serviço oferecido faz com que os munícipes procurem outra alternativa de transporte, como os aplicativos – que também ganharam força nos últimos dez anos, de acordo com a pesquisa.

Para Adamo Bazani, a escolha por esse meio de locomoção é uma realidade para as pessoas que precisam fazer um deslocamento diário com quilometragem mais curta, tendo em vista as tarifas dos ônibus e o valor cobrado pelos aplicativos. Porém, ele faz um alerta sobre essa utilização.

“Esse aumento no uso de aplicativos levanta a seguinte questão: é preciso financiar o transporte público e o aplicativo pode ser uma das formas desse financiamento. Caso contrário, o transporte público, que é socialmente importante, pode entrar em colapso”, explica.

 

Por que a concessão do reajuste?

O Jornal do Trem & Folha do Ônibus questionou as prefeituras da zona Oeste da Grande São Paulo – que autorizaram o reajuste da tarifa – sobre os motivos que levaram a concessão e solicitou a cópia das planilhas de custos das empresas que foram apresentadas aos prefeitos para justificar o pedido de aumento. Além disso, foram requeridas informações como a quilometragem das linhas percorridas desde 2013 a 2018.

As prefeituras não encaminharam todas as informações solicitadas – ou por decidir não serem transparentes ou por falta de conhecimento do trabalho realizado pelas empresas de ônibus no município.

A prefeitura de Barueri informou que as empresas operadoras das linhas municipais apresentam planilhas de custos quando solicitam o reajuste tarifário. Estes documentos não podem ser disponibilizados, pois pertencem às empresas. “A Prefeitura faz uma análise dos custos e, neste último caso, o valor deferido foi menor do que o solicitado”, diz.

Vale ressaltar que em Barueri, o prefeito Rubens Furlan decretou o aumento, no decreto nº 8.900 de 3 de janeiro de 2019, sem revelar os reais motivos para tal ação.

Para justificar o aumento em Itapevi, a prefeitura informou que a “Benfica – empresa responsável pelo transporte na cidade – apresentou reajuste de R$ 0,59, mas foi autorizado apenas R$ 0,15”.
Em Osasco, as conversas eram de que a tarifa ficaria acima de R$ 5,00. Segundo a prefeitura,
“há um contrato de concessão em vigor, que prevê o reajuste anual das tarifas, e as empresas pediram um valor entre R$ 5,04 e R$ 5,08. No entanto, o prefeito Rogério Lins negociou para que ficasse abaixo da inflação no período”.

A prefeitura de Jandira informou que a concessionária responsável pelo transporte público não contatou a administração para aumentar as tarifas de ônibus. “Sendo assim, não existe previsão para aumento até o momento”.

Carapicuíba e Santana de Parnaíba não se posicionaram sobre o assunto até o fechamento dessa edição.

 

Empregado e empregador

O reajuste das tarifas onera tanto o empregador quanto o funcionário diante da possibilidade de contratação daqueles que utilizam menos transporte público em seu deslocamento – principalmente nas cidades aonde o valor transporte tem um reajuste diferenciado da tarifa comum.

“No Grande ABC, por exemplo, as tarifas de vale transporte são mais caras do que a tarifa comum. Vários juízes entendem que se trata de uma prática irregular e ilegal. Se pagar o vale transporte é caro, o empregador vai optar pelo funcionário que não utiliza o transporte público ou aquele que utiliza menos. As tarifas altas desestimulam o empregador a manter o funcionário e estimula a ilegalidade”, comenta Adamo.

Leia também