Refletindo sobre o Dia Internacional da Mulher, o momento de mudança nos conceitos de toda a sociedade precisa ser considerado – não apenas os dados sobre a violência (que nunca podem ser desprezados ou diminuídos).

Dentro de muitas mulheres começa a crescer a consciência de que “algo” precisa mudar. E entre tantas campanhas e protestos, surgiu um termo novo. Diferente. A sororidade.

Como explica a filósofa e doutoranda em Comunicação Social pela Umesp, Patrícia Fox Machado, uma contextualização se faz necessária. A sororidade se diferencia do feminismo – apesar de serem muito ligados. “O termo mais adequado seria ‘feminismos’, pois são muitas vertentes. De qualquer forma, além de uma teoria, são ‘movimentos’ que envolvem a política, não no sentido partidário, mas sim em relação a integração da mulher como um ser político ativo, bem como a reinserção das características femininas na sociedade”, diz.

“Já a sororidade, no sentido comum de união entre as mulheres e apoio mútuo, é um termo recente”. De acordo com ela, inclusive, existem algumas vertentes do feminismo que questionam a sororidade, alegando que ela seria simplista quando iguala todas as mulheres e ignora as diferenças de classe e de etnia, por exemplo.

“Mas eu vejo a sororidade mais como uma ação do que como algo idealizado. Gosto de pensar nesta prática como algo relacionado com a amizade – uma forma de amor, que aceita as diferenças, se encontra nas similaridades, busca e trabalha para algo comum e bom para toda coletividade”, explica Patrícia.

 

Caminho a percorrer

Larissa Mungai, co-fundadora da escola on-line Moporã, tem se destacado pelos programas de coaching específicos para mulheres. De acordo com ela, a falta de empatia com o outro é sempre um reflexo da falta de aceitação com aspectos de nós mesmos. “Uma verdadeira consciência coletiva começa a partir do desenvolvimento da nossa autoconsciência. Sem o trabalho individual, é difícil nos conectarmos coletivamente, pois sempre estaremos levando as nossas questões mal resolvidas para o coletivo”, explica.

Patrícia concorda. “Um processo de autoconhecimento – incluindo os processos terapêuticos e a prática de uma espiritualidade consciente – podem ajudar na mudança dos conceitos entre as mulheres e na sociedade como um todo”.

O desequilíbrio entre as energias masculinas e femininas que permeiam o mundo pode ser sentido no cotidiano e repercute na vida de todos. “Para começar, se eu não valorizo a energia feminina, é impossível trazê-la para a minha vida. O mundo, isso incluindo as mulheres, valoriza muito mais a energia masculina. Aspectos como a ação, a direção e a assertividade, por exemplo, são muito mais valorizados do que a aceitação, a receptividade, a intuição. Quando eu começo a caminhar no sentido de realmente valorizar aspectos inerentes ao feminino (e eu estou falando de homens e mulheres, pois tanto homens e mulheres possuem aspectos da energia masculina e feminina), eu começo a tomar decisões onde esses aspectos estão presentes”, explica Larissa.

 

E os homens?

Mesmo assim, não é saudável criar um ambiente de disputa entre homens e mulheres. “Enquanto os homens não desenvolverem uma atitude empática em relação às questões da mulher, do feminino e do planeta – e que são questões humanas – não avançaremos em direção ao equilíbrio que beneficiará a nós todos, incluindo os seres não humanos e o planeta. Eles também precisam de autoconhecimento, autoquestionamento, coragem para abandonar os modelos que são impostos pela cultura patriarcal e partilhadas no cotidiano. 
O ser humano contemporâneo precisa urgentemente ter uma “DR” consigo mesmo. Se não resolvermos a relação com si mesmos, não conseguiremos nos relacionar harmoniosamente com os outros seres humanos e mesmo com a própria existência. Homens e mulheres íntegros… é isso que precisamos resgatar”, conclui Patrícia. 

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