A proposta da Reforma da Previdência apresentada ao Congresso Nacional levanta a discussão sobre a idade mais adequada para o brasileiro se aposentar. No Brasil, em 2018, um levantamento da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) revelou que cerca de 7,5 milhões de trabalhadores tinham a partir de 60 anos.

Os fatores que levam os idosos a estarem na ativa vão desde as dificuldades financeiras até o prazer de se sentirem úteis e servir à sociedade. Nossa reportagem bateu um papo com alguns dos distribuidores das edições do Jornal do Trem & Folha do Ônibus, que todas às sextas-feiras acordam bem cedo para levar até você, caro leitor, os nossos exemplares. São idosos, aposentados, que retratam a realidade do trabalho na terceira idade.

Quando não é uma opção

Muitos brasileiros sonham em se aposentar e, com isso, desfrutar do descanso tão merecido. Mas para que tudo ocorra de maneira tranquila, é preciso que durante o tempo na ativa tenha-se construído um bom ‘pé de meia’. Caso contrário, ainda é necessário continuar trabalhando para manter o sustento da casa – a aposentadoria, dependendo da atividade exercida, está muito aquém de trazer conforto.

“Muitas pessoas da terceira idade não conseguem viver com o dinheiro da aposentadoria e, por isso, precisam se reformular – ver no que podem trabalhar e aprender alguma coisa nova – e, assim, continuarem a exercer algum papel na sociedade”, comenta a psicóloga e consultora especializada em processo de envelhecimento, Tatiana Wernikoff.

Sandoval Manoel dos Santos, 69 anos, realiza a distribuição do Jornal do Trem & Folha do Ônibus há 14 anos e comenta que “continua a trabalhar porque a aposentadoria é pouca e precisa ajudar em casa”.

Lourival Cassiano também trabalha para “conseguir deixar as contas de casa em dia”. Além de trabalhar na equipe de distribuição do jornal, ele faz outros serviços para complementar a aposentadoria.

Para se manter ativo

O velho ditado diz que quando ‘a cabeça não pensa, o corpo padece’. É com esse pensamento que muitos aposentados decidem se manter em atividade, como é o caso de Antônio Camargo Domingues, 83 anos.

“Eu gosto de trabalhar e não quero ficar em casa sem fazer nada. O incentivo para estar na ativa é o fato de sempre aprender e interagir com as pessoas. Faço o meu trabalho de maneira correta e sempre feliz”, diz o distribuidor que há 14 anos faz parte da equipe de distribuição.

A psicóloga Tatiana explica que muitos brasileiros se aposentam com 60 ou 65 anos e percebem que há muita vida pela frente que deve ser aproveitada – motivo que os levam a continuar trabalhando.

“Quando se percebe que estar aposentado não quer dizer nunca mais ou nunca mais por enquanto, a pessoa vai adquirindo a noção de que o seu desenvolvimento não para. Ela continua, principalmente, aprendendo, captando o que significa ser útil e procurando se desenvolver e trabalhar”, fala.

Quando parar de fato?

Para Tatiana, a decisão de não continuar trabalhando com o avançar da idade virá do próprio aposentado, após uma análise das suas condições físicas e psicológicas.

“O limite vem da autocrítica. A pessoa precisa trabalhar a mente para se sentir à vontade de não fazer nada. Quanto aos idosos que precisam trabalhar, por questões financeiras, é preciso reconhecer a necessidade de parar, chamar a família, compartilhar dessa decisão e procurar uma solução – essa é a parte mais complexa e depende da saúde psicológica”, explana a psicóloga.

*Colaborou Patrícia Cardoso

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