Suzana Herculano-Houzel

Eu estava quietinha no avião, adormecida, quando fui acordada por uma tensão súbita e intensa na garganta, pressão no peito, falta de ar, o cérebro berrando o alerta de que algo estava drasticamente errado e que uma catástrofe fisiológica era iminente. Minha suspeita foi confirmada pelo neurologista: era o começo de um ataque de pânico.

Nem todo pânico é um ataque do cérebro ou sinal de um distúrbio, claro. Assim como a tristeza tem seu lado bom, o pânico só é um transtorno quando ele ocorre fora de hora e contexto. Às vezes, contudo, o cérebro dispara todos os alarmes sem que haja risco real à integridade do corpo.

No ataque de pânico, esses neurônios são acionados fora de hora e sem motivo aparente – mas o sinal é o mesmo: o corpo está ficando intoxicado por gás carbônico. A sensação de morte iminente, portanto, é perfeitamente real e convincente.

O jeito? Esperar até o ataque passar, apelar para ansiolíticos de ação rápida ou tentar truques cognitivos, como tentar se convencer de que está tudo bem.

Foi, por sorte, meu caso, pois não tinha remédios na bolsa. O avião estava perfeitamente estável, e os outros passageiros, também adormecidos. Saber que ataques de pânicos existem e como eles são ajudou meu cérebro a reconhecer a situação, respirar fundo e devagar e se acalmar sozinho.

 

Suzana Herculano-Houzel é neurocientista e professora da UFRJ

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