Mirian Goldenberg

Em quase três décadas de pesquisas, raramente encontrei casais que nunca brigam ou que brigam apenas por motivos sérios. A maioria dos casais que pesquisei discute cotidianamente por questões banais.

Em quase todas as relações afetivas existe algum tipo de dominação, ainda que de forma inconsciente. No jogo de dominação conjugal, nem sempre o objeto da disputa é relevante, pois o que importa é exercer o poder sobre o parceiro. Pequenas decisões cotidianas podem ser objeto de discórdia, como mostra uma estilista de 27 anos: “Nós brigamos o tempo todo. Quem está falando a verdade? Quem deve reconhecer que o outro está com a razão? Quem vai lavar a louça? Será que os casais perfeitos também brigam?”.

No entanto, alguns casais revelam ter mais cuidado para manter a paz na relação. Uma empresária de 56 anos disse: “Meu marido tem a metade da minha idade, mas é mais maduro do que eu. Tenho uma profunda admiração por ele. Todo mundo foi contra o nosso casamento. Tivemos que brigar tanto para ficar juntos que nunca tivemos tempo e paciência para brigar entre nós. Preferimos investir na nossa felicidade em vez de desperdiçar o tempo com brigas. Como cantava Tom Jobim, ‘bom é mesmo amar em paz, brigas nunca mais'”.

Muito mais do que o amor e o sexo, percebo que as relações em que existe maturidade, respeito e admiração pelo parceiro são as mais satisfatórias, prazerosas e divertidas. E, mais importante ainda, elas têm muito menos brigas.

 

Mirian Goldenberg é antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro

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